As Beguinas e Nós: Reflexões sobre Liberdade, Igualdade e Escolhas
- Gláucia Brasil

- 3 de nov.
- 2 min de leitura
No coração silencioso de Bruges, entre canais e jardins murados, as Beguinas escolheram um modo próprio de existir.
Foram mulheres livres, cultas, generosas e corajosas, que — em pleno século XIII — recusaram as estruturas rígidas da Igreja e do casamento para viver de forma autônoma, solidária e espiritual.
Criaram comunidades de saber e afeto, onde o pensamento, o estudo e o cuidado eram formas de devoção.
Séculos depois, as vozes das Beguinas ainda ecoam. E, diante dos desafios contemporâneos das pautas de igualdade, talvez devamos nos perguntar:
como avançar, se nós mesmas não revisitarmos nossas crenças, posturas e contradições?
Como educar meninas para a autonomia se continuamos a orientá-las a “escolher bons partidos”?
Como acreditar em nossa força se ainda associamos estabilidade à figura do provedor — aquele que, ao prover, impõe suas regras?
Como conquistar igualdade no trabalho se, quando chegamos ao poder, tantas vezes falhamos em acolher, inspirar e apoiar outras mulheres?
E quanto aos meninos — em que momento os educamos para o respeito genuíno às suas companheiras?
O que, afinal, buscamos: igualdade ou superioridade?
E por que tantas vezes desvalorizamos as mulheres que escolhem dedicar-se à família, como se liberdade fosse sinônimo de desempenho público?
Talvez a verdadeira revolução feminina esteja na busca por equilíbrio e consciência, não por antagonismos.
Nem todas nasceram para liderar — e tudo bem.
O essencial é que todas possam escolher seus caminhos com dignidade e reconhecimento.
Inspiradas pelas Beguinas, podemos compreender que a liberdade não se impõe: cultiva-se.
Ela floresce na empatia, no exemplo e na educação que liberta sem doutrinar.
A igualdade, por sua vez, não se constrói apenas por leis, mas por atitudes diárias de respeito, solidariedade e coerência.
Que o lançamento do IEJA Delas, em parceria com a Advance Women Equality (AWE), nos inspire a continuar esse diálogo interno e coletivo.
Que possamos, como as Beguinas, transformar serenidade em força, e conhecimento em serviço.
Porque o futuro da igualdade — e da humanidade — começa no olhar que lançamos a nós mesmas.
Gláucia Brasil (02/11/2025)









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